Guardou
a vida no bolso do velho sobretudo usado pelo tempo. Lá fora está frio, o vento
assobia e a chuva insiste em martelar os vidros das janelas. Mas nada disso
importa, há frio e rios de chuva dentro dela. Chega de tropeçar, basta de mãos
e joelhos esfolados e de nódoas negras invisíveis. A vida é dela e tem direito
a não a viver. A partir de hoje vai resguardar-se nos livros, nos filmes, nas
viagens que há-de fazer, no trabalho que há-de surgir. Mas sempre sem viver.
Dar-se não se dando. Confiar desconfiando. E ir embora. Para longe, onde não a
conheçam. Sim, perdoem-na, mas ela por vezes ainda alimenta a ilusão de que
talvez possa (re)começar noutro sítio e tudo possa ser diferente. Ela ainda não
percebeu que ela é que precisa de ser diferente.
2 comentários:
está magnífico :)
Obrigada :)
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