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quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Última: expiação

C., 7 de Janeiro de 2014

Tornaste impossível que eu olhe para trás com carinho. Olhando agora para o que passou só consigo ver o teu egoísmo em todos os momentos em que me devias ter apoiado mas em que ainda me fizeste sentir pior, como se eu não valesse nada enquanto pessoa nem enquanto mulher. Só vejo as ocasiões em que foste egoísta e pensaste apenas nas tuas conveniências e no teu prazer. Aquilo de que eu verdadeiramente precisava era de alguém ao meu lado, que me desse confiança e se interessasse por mim como um todo.
O que mais me dói no meio de tudo isto não é o fim da nossa relação, mas sim pensar que gostei de uma pessoa que não existe.
Não suporto pensar que estávamos ainda juntos e tu sentias algo por outra pessoa. Não suporto imaginar as conversas que teriam. Sim, tomaste a atitude certa ao terminar a nossa relação. Mas ocultaste-me isso. Para quê? Para eu ficar “em espera”, para continuares a ter alguém que te desse opiniões sobre roupas ou que te ouvisse quando estavas chateado ou simplesmente não tinhas nada interessante para fazer? E eu continuei presente todo esse tempo, porque achei que isso fossem pequenos sinais de que eu era especial. Da mesma forma que achei que a tua aproximação, os teus olhares, o pegares nas minhas mãos nos encontros que tivemos pouco mais de um mês depois significavam algo. E só mais tarde fiquei a saber que uma semana depois estarias com a pessoa por quem nessa altura sentias algo. E ainda nesses encontros falavas, sem qualquer constrangimento, do evento onde bem sabias que irias encontrar essa pessoa. Durante o tal evento enviaste-me uma fotografia (terá sido no dia a seguir a teres tido sexo com ela?) do luar! E caramba, eu sei sou ingénua, mas achei que te tinhas lembrado de mim. Talvez tenhas lembrado, mas para fazer troça E atreveste-te até a vires lamentar-te pela falta de organização e calor excessivo que se fazia sentir. Mas isso não te bastou. Algum tempo depois perguntei-te se o (pouco) que tinha acontecido entre nós naquela semana poderia ter acontecido se fosse outa pessoa no meu lugar. E nem aqui tiveste coragem de admitir que sim. Mas não ficámos por aqui. Escrevi-te uma carta, abri o meu coração e falei de assuntos íntimos e delicados. E tu respondeste-me como se nem houvesse outra pessoa com quem agora partilhasses momentos íntimos. Eu nunca teria permitido o que aconteceu entre nós nem escreveria uma carta daquelas se soubesse que existia outra pessoa na tua vida, independentemente dos termos da vossa relação. Mais tarde estivemos juntos, eu ainda sem saber o que se tinha passado. Aproximaste-te de mim sem quaisquer certezas do que sentias e eu afastei-te pois, tal como te disse, não queria estar com uma pessoa que após alguns dias fosse estar com outra. Tu ficaste ofendido quando disse isso (como se não tivesses feito exactamente isso anteriormente!). E foi então que te perguntei se tinhas estado com alguém desde que tínhamos terminado e tu respondeste afirmativamente. Então percebi tudo, as datas e a ordem pela qual tudo tinha acontecido. Só mais tarde fiquei também a saber que já sentias algo por essa pessoa enquanto ainda namorávamos. Nesse dia senti raiva como nunca e jurei a mim mesma que não quereria mais nada contigo. Disse-te que o facto de teres estado com outra pessoa destruía qualquer hipótese de ficarmos juntos e que a tua atitude tinha destruído a hipótese de no futuro sermos amigos. Quebrei a promessa. Após semanas de indecisão tua disseste que gostavas de mim, e que querias voltar a tentar. Eu sempre te disse que não sabia se seria capaz de te perdoar. Agora sei que não devia ter perdoado, bem como sei que a tua ausência de arrependimento era sinal de que não gostavas realmente de mim – se gostasses mesmo arrependias-te por algo que poderia fazer com que me perdesses para sempre, tal como terias considerado um erro o teu envolvimento com essa pessoa e não os sinais que me deste nessa altura. Ainda assim decidi esquecer o orgulho. Não queria mais tarde arrepender-me de não nos ter dado esta hipótese. Perguntei-te se tinhas a certeza do que sentias por mim, se estavas conscientes dos problemas que a nossa relação tinha tido e que teríamos de resolver. Disseste que sim. Tentei perdoar algo que sempre achei imperdoável. Começaste a fazer planos que me pareceram demasiado exagerados. Estiveste comigo, fizemos planos a curto prazo, mais realistas, eu tinha tudo pronto. E depois simplesmente voltaste atrás, porque afinal não há espaço na tua vida para mim, porque não podes dar-me mais. Pois não, não podes dar-me mais porque não sentes mais.
Claro que tive culpas em tudo isto. Claro que não te devia ter perdoado. Apesar de tudo não me arrependo. Sempre gostei genuinamente de ti, sempre fui sincera e tentei fazer o melhor. Não te culpo por não gostares de mim, mas sim por não teres assumido isso. Às vezes tenho muita raiva, eu sei que isso não me faz bem, mas está a passar. Cada dia tenho um bocadinho menos de raiva, até que chegue o dia em que sinta apenas indiferença.
Às vezes sinto vontade de te enviar tudo isto, mas isso seria dar-te demasiada importância, basta-me transpor tudo para o papel. Cansei-me de me expor constantemente enquanto tu ocultas o que sentes.
Pelo menos mantenho uma das minhas promessas. Não seremos amigos, nunca.

 (Talvez a dor que me tolde a visão e me faça ser injusta em relação a muitas coisas. Sim, também me fizeste muito feliz. Talvez um dia consiga ver tudo com mais clareza). 

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